As florestas desempenham um papel importantíssimo para a sociedade. Além de serem a morada de plantas e animais e fornecererem serviços ecossistêmicos como água e ar puros, elas também atendem povos e comunidades. Estima-se que 1,2 bilhão de pessoas no mundo dependem das florestas como meio de vida. Infelizmente, no entanto, muitos desses ecossistemas vitais estão degradados. Estudo do WRI estima que 2 bilhões de hectares no mundo todo tem algum grau de degradação. No Brasil, estudo do LAPIG identificou 69 milhões de hectares pastagens com degradação moderada ou severa no país.

Como reverter esse cenário? A restauração de florestas e paisagens é um caminho. Trata-se de um meio de reestabelecer as funções ecológicas da floresta e a produtividade da terra. Por ser tão importante, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu a década de 2021-2030 como a Década da Restauração de Ecossistemas.

Mas por que restaurar, e quais os benefícios? Confira abaixo em gráfico e texto a importância da restauração de paisagens e florestas.

Infográfico Década da Restauração

Uma década de compromissos com a restauração

A Década da Restauração é uma forma de os estados-membro das Nações Unidas reconhecerem a importância da restauração de ecossistemas para combater a crise climática global e melhorar a segurança alimentar, o fornecimento de água e a biodiversidade. Ela estimula lideranças políticas, do setor privado e da sociedade civil a reforçar compromissos com a recuperação de áreas degradadas.

Esses compromissos já existem. Muitos países já se comprometeram com metas, propostas e planos para recuperar florestas e paisagens. Um deles é o compromisso global do Bonn Challenge de restaurar 350 milhões de hectares de áreas e florestas degradadas até 2030. Até agora a iniciativa reúne mais de 70 compromissos de mais de 60 países que, somados, preveem a restauração de 210 milhões de hectares. O Brasil, por exemplo, por meio do Planaveg, tem o compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, além do objetivo de implantar a agricultura de baixo carbono em outros 10 milhões de hectares, metade em integração Lavoura, Pecuária e Floresta e metade em recuperação de pastagens.

O Brasil não está sozinho. Na América Latinha, 17 países, além de governos subnacionais, se comprometeram com a restauração de 50 milhões de hectares até 2030 por meio da Iniciativa 20x20. No continente africano, há o compromisso de se restaurar 100 milhões de hectares pela iniciativa AFR100.

Restaurar é bom para o meio ambiente

Mas o que ganhamos com a restauração florestal? Os benefícios para o meio ambiente são evidentes e, consequentemente, para toda a sociedade.

Um exemplo é na melhoria da qualidade do solo e da água. As florestas reduzem a erosão e aumentam a fertilidade do solo. Ao controlar a erosão, elas diminuem a quantidade de sedimentos – terra e solo – que entram nos rios, melhorando a qualidade da água como um todo. Um estudo do WRI Brasil mostrou que a restauração e conservação em áreas prioritárias dos reservatórios de abastecimento de água, por exemplo, reduz custos com produtos químicos no tratamento. Isso poderia resultar em economias de R$ 338 milhões em São Paulo e R$ 259 milhões no Rio de Janeiro. Não por acaso, investimentos em restauração estão sendo considerados como uma infraestrutura natural.

A restauração também tem papel crucial no combate e adaptação às mudanças climáticas e na proteção da biodiversidade. Estudos do IIS na Amazônia e Mata Atlântica mostram que a restauração pode retirar da atmosfera mais de 18 milhões de toneladas de carbono e reduzir o risco de extinção para 369 espécies na Amazônia e 647 espécies na Mata Atlântica. Outro estudo mostrou que a restauração de áreas degradadas pode aumentar a resiliência e com isso ser uma estratégia efetiva de adaptação da agropecuária brasileira às mudanças climáticas.

Restaurar move nossas economias

Se os benefícios ambientais são evidentes, uma série de estudos e pesquisas têm mostrado que a restauração de paisagens e florestas também é chave para a economia.

O Brasil precisa de uma série de medidas econômicas inteligentes para fazer uma transição para uma economia de baixo carbono mais sustentável, resiliente e justa. Essa transição é uma grande oportunidade econômica – estudo do WRI Brasil estimou que pode gerar um benefício de R$ 2,8 trilhões para o PIB do país. A restauração é parte dessa equação. Esse mesmo estudo mostra que a recuperação de pastagens degradadas, por exemplo, tem o potencial de aumentar o PIB em R$ 19 bilhões.

Além disso, a restauração é estratégia crucial para gerar empregos e renda no campo. Segundo estimativa do Planaveg, a restauração e reflorestamento têm potencial de criar 191 mil empregos diretos no meio rural por ano. Muitos outros benefícios da restauração podem ajudar a tornar a vida rural mais digna e menos desigual.

Toda a comunidade se beneficia da restauração

Esses benefícios não são apenas nacionais ou globais, mas também na própria localidade, ajudando produtores rurais e comunidades que restauram. O WRI Brasil, por meio da metodologia ROAM, avaliou as motivações, oportunidades e prioridades da restauração em algumas localidades e comunidades do país. O resultado é que as comunidades têm muito a ganhar se engajando na restauração.

No Vale do Paraíba Paulista, por exemplo, a ROAM identificou oportunidade de melhorar o solo, a água, e gerar um aumento do PIB agropecuário da região de 32% com iniciativas de restauração. No norte do Espírito Santo, a restauração desempenha um papel crucial na água, evitando a desertificação. E em Minas Gerais, na região atingida pelo rompimento da barragem de Mariana, restaurar fortalece laços sociais e pode aumentar o PIB local em R$ 23 milhões.

Um ponto importante dos benefícios da restauração para as comunidades é que ela mostra que o engajamento e a liderança feminina multiplicam os resultados positivos. É o que foi identificado por exemplo em Pintadas, na Bahia, onde um projeto em parceira com o WRI Brasil mostrou como a conservação e recuperação da Caatinga fortalece cooperativas locais de mulheres, e também na Amazônia paraense, onde sistemas agroflorestais ajudam a diversificar a produção da agricultura familiar.

Como restaurar? Técnicas e modelos

Não há uma única forma de restaurar ou recuperar paisagens. Pelo contrário – são múltiplos os modelos e possibilidades de restauração. Isso pode ser usado a nosso favor: dependendo da paisagem em questão, da comunidade ao redor, pode-se escolher modelos e técnicas que estejam de acordo com as necessidades. Esses modelos podem ser puramente ecológicos, para recuperar um ecossistema, econômicos, com finalidade de exploração de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros, ou misto. Confira alguns dos caminhos para restaurar.

  • Regeneração natural assistida (RNA): intervenções humanas para facilitar que uma área degradada se regenere .
  • Plantio direto ou semeadura: a restauração ativa, seja por meio do plantio de mudas, ou pelo uso de sementes em forma de muvuca.
  • Silvicultura com espécies nativas: a produção de madeira de qualidade a partir de florestas plantadas nativas.
  • Sistemas Agroflorestais: modelos que integram árvores e lavouras.
  • Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF): técnica que permite integrar, num mesmo espaço, produção agrícola, criação de gado e silvicultura.

Já tem gente restaurando

Um ponto importante que precisamos destacar é que essa Década da Restauração dos Ecossistemas não começa apenas na teoria. Já tem muita gente restaurando e reflorestando na prática.

No Brasil, por exemplo, o Observatório da Restauração e Reflorestamento, uma iniciativa da Coalizão Brasil, Clima, Florestas e Agricultura com apoio do WRI Brasil e outros parceiros, está mapeando a restauração e o reflorestamento a partir de dados de satélite e em projetos no chão. Um dado interessante da plataforma se refere à Mata Atlântica: foram identificados até o momento 74 mil hectares em restauração na Mata Atlântica, bioma mais desmatado do país. O Pacto pela Restauração da Mata Atlântica é um importante coletivo atuando nessa região.

A restauração também está em andamento em outros biomas. Na Amazônia, por exemplo, a Aliança pela Restauração da Amazônia já identificou 113 mil hectares em restauração.

Quem são essas pessoas que estão fazendo a restauração acontecer? O projeto As Caras da Restauração, do WRI Brasil, contou algumas dessas histórias.

O que falta para acelerar e dar escala à restauração

A Década é uma nova oportunidade para que os projetos e iniciativas de restauração e reflorestamento que já estão em andamento possam acelerar e ganhar escala. Planejamento e capacitação, Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER), financiamento, pesquisa & desenvolvimento e monitoramento são algumas das ações para que a restauração, o reflorestamento e a regeneração se tornem realidade, resultando em benefícios ambientais, sociais e econômicos para as comunidades e para o planeta e parte da solução para os grandes desafios do século 21.

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Atualização em 20 de julho de 2021: O texto e imagem foram alterados para corrigir os valores dos benefícios da restauração para a qualidade da água em São Paulo e Rio de Janeiro